quinta-feira, 20 de março de 2014

O que realmente importa?

Estigma é uma característica pitoresca para pessoas e cidades. Ciclista tudo é excêntrico, pedestre é tudo folgado, baiano é preguiçoso, São Paulo é a cidade com o pior trânsito do Brasil. Pois não é. Depende do que você considera como pior. Certamente, pra quem está dentro do carro, o pior do trânsito é o engarrafamento, achar onde estacionar, a indústria de multas - faz-me rir!!!! -, mas para todos os assassinados nas ruas diariamente, o pior do trânsito são as mortes. Nem vale aqui discutir o que é mais importante. Se alguém acha a solução para o engarrafamento a prioridade máxima da mobilidade, e não as mortes no trânsito, meus parabéns. Nós do Cicloação achamos a segurança o pior problema do trânsito. E é por isso que fazemos questão de comparar nossa pequena e plana cidade com a gigante e inclinada São Paulo. O Bicicreteiro da Silva já tinha feito isso, mas agora vieram os dados.

Em matéria divulgada no Estadão, temos que a maior cidade do país teve um declínio no número de mortes em 6% em 2013, apesar do recorrente aumento da frota e da população - algozes e vítimas respectivamente -, o que poderia ser uma surpresa. Mas será que é? Em 2013, o que tivemos de diferente em São Paulo? Algum investimento pequeno, mas real em estrutura cicloviária, criação de faixas exclusivas de ônibus, redução das velocidades máximas em áreas do centro da cidade, campanha pelo respeito ao ciclista veiculada na TV, pedindo respeito ao 1,5m ao passar o ciclista, além de outros cuidados.. Em quantidade menor, sem noção do tamanho dessas medidas, pude ver em alguns bairros alargamento de calçada em esquinas, diminuindo a distância de travessia na faixa. O que essas medidas têm em comum? Todas elas são investimento em mobilidade em todos os outros modais, com exceção do automóvel. Sobre as três principais, comentários rápidos:

- Aumento de malha cicloviária: seduz as pessoas ao uso da bicicleta como transporte. Algumas delas saem do carro. Mais bicicletas, mais mortes? Não. Menos carros, menos mortes.

- Criação de faixas exclusivas: torna o ônibus mais rápido em muitos trechos. Também tira gente dos carros, e diminui a velocidade dos carros pelo aumento do engarrafamento.

- Redução de velocidades máximas no centro: torna o ambiente mais seguro para ciclistas e pedestres. Também é um atrativo a esses modais, consequentemente tira pessoas dos carros.

- Campanha de TV: pedindo respeito ao ciclista, sem conceitos ambíguos e irreais de respeito de lado a lado entre ciclistas e motoristas. Mostra ciclista levando criança, ocupando a faixa, sem capacete, todo tipo de comportamento normal no mundo inteiro, mas motivo de revanchismo de muitos clientes da indústria de multas por aqui. A educação como elemento transformador do trânsito. Lembrando ao motorista o que já está no CTB. E podemos lembrar ainda, como etapa seguinte a esta campanha, o fato de os agentes da CET estarem multando o desrespeito ao ciclista, notícia que se espalha rápido, seja como indústria de multas, ou qualquer outra coisa.


O resultado final é que a cidade de São Paulo conseguiu quebrar a barreira dos 10 mortos/100.000 habitantes no ano, pra baixo! Atingiu o ainda perigoso, mas não tão trágico número de 9,6!!!

Repetimos então o quadro do nosso último post, com dados informados essa semana pelo Observatório do Recife. Esses dados são de mortes por 10.000 habitantes, então em 2011, quando os números de SP eram eram um pouco maiores que 10 mortes por 100.000, em Recife, tinhamos 39,2 mortos por 100.000, já que o quadro abaixo mostra números por 10.000 habitantes. Menor que 2010, mas impossível de determinar que isso é uma tendência. O fato tão preocupante quanto o alto índice de mortes, é a falta de dados. Somos uma cidade muito menor, e não temos transparência sobre que condições de trânsito temos. 2012 e 2013 são uma incógnita. Se daqui uns meses ou anos, quando tivermos esses dados, eles demonstrarem um aumento das mortes, já estaremos muito atrasados no tempo para tomarmos alguma medida.
Mortes por 10.000 habitantes
Nunca imaginei que nossa meta mais próxima seria ser tão seguro quanto São Paulo. Isso significaria hoje, com os números que temos, diminuir em 75,5% as mortes no trânsito.

Quantas dessas medidas citadas acima foram implantas em Recife? A faixa exclusiva na Av. Mascarenhas de Moraes. E junto com ela, a proibição de ciclistas compartilharem a via com os ônibus, o que também já acontece em São Paulo.

Pra terminar, uma última informação. Em São Paulo, com 12 milhões de habitantes, 35 ciclistas morreram em 2013. Em Recife foram 31.

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